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O LUGAR, A DESCOBERTA E UMA MANTA DE CROCHÊ

Acervo da artista

 

E foi nas ruas daquele bairro, nas calçadas daquele lugar, e no deslocamento espaço-temporal da cidade que habitamos, que a minha história se inscreveu e fez de mim, quem sou hoje.

De que outra forma seria possível iniciar um percurso que trata exatamente daquilo que me identifica como sujeito habitante de algum lugar, senão pela ativação da memória? Memória temporal que só se apreende pelo registro, pela própria história narrada. Essa é uma das funções que o Museu de Periferia - Ponto de Memória - se dispõe: contar a história do Bairro Sítio Cercado, por meio de registros, desde seus desbravadores proprietários e herdeiros do início do século XX até os dias de hoje. A história passa pelos primeiros loteamentos da década de 1960, até chegar aos atuais moradores advindos das mais distintas regiões do estado e do país (faço parte deste último grupo já há vinte anos). Antigamente era um sítio, ladeado pelas águas dos arroios Cercado, Padilha e Boa Vista, daí o nome "Sítio Cercado", pelas águas. 

O Museu, fonte dessa e de outras importantes informações se tornou o protagonista de uma transformação que estava ocorrendo naquele momento; a minha própria. Havia despertado em mim o sentido pleno de pertencer a um lugar, a um espaço geográfico, palco das relações humanas. 

 

 

MUPE- Museu de Periferia do Sítio Cercado; Este é nome oficial, com todas as características culturais de sua gente, suas especificidades e multiplicidades, é o lugar que abriga a história local. Patrimônio imaterial. Fio que cruza trajetórias, que borda o presente com as agulhas do passado, que tece identidades tal qual o trabalho em crochê; circular, crescente e contínuo.

 

O lugar que abriga também pede abrigo. Toda memória pede proteção. E a analogia com o crochê na prática se torna ferramenta de junção. Fios de lã, barbantes, agulhas e mãos. Várias mãos! Descobrem pontos que unem, que interligam, cobrem e protegem. É um novo "Do-in antropológico", tal qual na origem do projeto Ponto de Memória - que deu vida ao MUPE. Agora a massagem que estimula os pontos vitais vem de novas mãos. Vem da confecção de uma grande manta tecida por diferentes pessoas, com reconhecimento, apropriação e afeto, é uma corrente sem limite geográfico. Transformação. A minha identidade mineira se molda e participa totalmente entrelaçada nesse novo território.

Eliana Brasil, Curitiba. 2017

http://mupesitiocercado.blogspot.com.br

Acervo da artista
Museu antes da intervenção

Museu antes da intervenção

Acervo da artista

Museu antes da intervenção

Museu antes da intervenção

Acervo da artista

Velha Contadeira

Velha Contadeira

Acervo interno

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